domingo, 10 de agosto de 2008
Carta para o meu pai
Bom dia, meu pai, que nunca conheci, que nunca vi e nem sei se você ainda existe. Falam muito de você, que tenho seu jeito, seu nariz, mas nunca recebi uma só mensagem de ti, pelo menos para dizer “Como vai meu filho?”, poderia até ser indiretamente, por outra pessoa, mas que desse o ar da graça. Que mostrasse interesse.
Você pode imaginar como é uma criança estar ao lado de seus coleguinhas, vendo seus pais os segurando, abraçando, dando aquele tipo de carinho a qual nunca tive? De acompanhar seus primeiros passos, sua primeira palavra dita, da queda inevitável de uma bicicleta, da formação da sua personalidade, da primeira briga, da primeira namorada... Pois é... Você nunca participou desses momentos, você nunca esteve lá quando eu mais precisava! Você simplesmente se foi... E eu sempre estava te esperando!
Que inveja do Roberto, do Marcelo, do Lourival, do Zé Luís, do Emerson, do Toninho, e tantos outros amigos de infância, que me seguiram até a adolescência. Sim, eu os invejava porque eles tinham pais. Pais enérgicos, atuantes, trabalhadores que sempre estavam presentes na tristeza e na alegria, na dor e na fome. Eles tinham seus pais... E quem eu tinha?
Se eu tenho dificuldades em relacionamentos, se sou insociável, se tenho uma natureza destrutiva ou se tenho essa minha eterna depressão que de algum modo, são decorrentes de sua falta, isso eu não posso dizer nem afirmar, mas aqui dentro, bem dentro do meu peito, sinto algo que me aperta, que me angustia, que me revolta. Meu coração é seco.
Nunca quis seu dinheiro (se é que você tinha ou tem, mas dizem por aí que você é um homem de posses...), nem atrapalhar a sua vida (acredito que você tenha outra família), apenas queria poder dizer ao mundo orgulhosamente que eu também tenho um pai.
Eu nunca tive um pai. Eu não sei o que é ter um pai. Nunca conheci o amor de um pai. E talvez por tudo isso, eu não queira ser pai.
E eu te odeio com todas as forças do meu ser!
Desculpem-me por esse post um tanto quanto triste. Meu coração pedia por isso.