O título dessa blogagem coletiva, proposta pela Geórgia e pela Meire, realmente me fez pensar: “O que você faz para acabar com o analfabetismo no Brasil?” E me vi meio que encurralado, pois na prática nem eu e a grande maioria faz. Sou professor de ensino médio e sofro muito com os alunos que recebo do Fundamental. Apesar de eles terem passados no mínimo oito anos na escola, eles chegam praticamente sem saber ler ou escrever, e o pior de tudo, nem sabem ou dominam as operações matemáticas básicas.
Qual a minha atuação perante a isso? Praticamente nula, pois apesar de tentar dar uma boa aula, as dificuldades que mencionei são barreiras que me atrapalham e vou ser sincero, eu e a grande maioria dos professores acabamos dando aquela ajudazinha e eles vão sendo empurrados, pois lado a lado existe uma legislação que na prática quer dizer ”É proibido repetir”, e assim o problema é sempre passado adiante e nada de concreto é feito, criando assim na escola os chamados analfabetos funcionais! E é aqui que vou concentrar a discussão.
Antes de mais nada, admito a minha culpa, mas na verdade não sou um educador na medida exata da palavra, sou apenas um professor de Física. Logo, alfabetizar não é a minha praia, pois não tenho competência para isso, e acredito que a grande maioria dos profissionais no ensino médio também não tem, porque na faculdade nossas aulas são pensadas para aquele aluno ideal, pelo menos na minha área, mas nunca para os alunos problemáticos que existem, que só trabalhando na área é que vamos ter que enfrentar esse problema e na prática teremos que encarar frente a frente.
Agora o que fazer com esse analfabetismo funcional na escola? Aulas de reforço? Permanência maior do aluno na escola? Tudo isso já vem sendo feito, mas na prática o problema não se resolve, pois a progressão continuada garante para o aluno o seu ingresso no ano seguinte. É como eu disse, sempre esbarra na legislação.
Quando voltamos ao passado e vemos pessoas que só possuem os primeiros 4 anos do fundamental, o antigo primário, e notamos a facilidade dessas pessoas em efetuar as operações básicas e comparamos com alunos que chegam hoje ao final do ensino médio sem saber, nos vem na cabeça se realmente o ensino adotado como sendo tradicional ainda teria lugar hoje no meio de tantas teorias pedagógicas “revolucionárias”. Querem saber a minha opinião? Apesar do aparato tecnológico que hoje existe, o giz e a lousa ainda prevalece. Essa história do professor sendo apenas o orientador da aprendizagem tem muitas falhas, o aluno ainda precisa daquele professor que vai a lousa e explique a matéria tim tim por tim tim.
A grande vedete do ensino hoje é trabalhar com projetos, enterrando os conteúdos, que em minha humilde opinião, são muito mais importantes. Não vejo muita mudança na aprendizagem dos alunos ao ficar fazendo cartazes, maquetes, assistindo vídeos e tantas outras coisas do gênero. Parece que falta algo, e esse algo reflete no desempenho dos alunos no tocante a leitura e compreensão de qualquer disciplina. Por isso acontece situações como essa que mencionei anteriormente, e algo engraçado, para não dizer trágico, mencionado por um colega de trabalho, de um fato que ocorreu na universidade que ele trabalha. Numa primeira aula do curso de Letras, um determinado professor deu uma lista de livros para que os alunos lessem e fizessem resenhas ou qualquer outra coisa do tipo. Perguntas que pulularam da boca de alguns alunos: "Mas professor, eu vou ter que ler nesse curso?" Sem comentários, não é mesmo?
Nessa semana, o governo do estado aplicou exames de matemática e português, referentes ao infame jornal que tivemos que engolir durante 42 dias. Dava para ver nos olhos dos alunos o terror, pois muitos reclamavam que as questões eram longas e eles não estavam entendendo nada. Algumas redações que li eram sofríveis, tive pena dos professores que iriam corrigi-las. Muitas delas eram verdadeiros amontoados de palavras que nem o aluno que fez entendia o que ele quis dizer. A grande maioria chutou para valer os testes. Teve até alguns que usavam o recurso da cara-ou-coroa para escolher a alternativa correta.
No Brasil, o índice do analfabetismo funcional ultrapassa 70% da população. Sendo que o aceitável seria em torno de 10%, algo que ocorre em países desenvolvidos. Agora não adianta só mudar a legislação (que é extremamente necessário), tem que preparar melhor os profissionais do ensino, aumentar “bem” os seus salários, para que eles sejam exclusivos da escola, diminuição do número de alunos em classe(20 ou 25 seria o ideal), e muito investimento na estrutura(laboratórios, recursos áudio visuais, etc.).
Para saberem mais sobre o analfabetismo funcional, leiam esse artigo da Unicamp, apesar dos dados inseridos serem de 1991, o texto é bem atual. Nesse outro artigo mais recente do site Reescrevendo a Educação, são apresentados gráficos e tabelas de dados mais recentes.
Muita coisa deve ser feita, uma reformulação completa principalmente no ensino fundamental de 1ª a 4ª série. E antes de tudo, como já mencionei antes, mudar a legislação educacional como um todo. Não há qualquer projeto pedagógico ou acadêmico que funcione enquanto os alunos forem "empurrados" ano após ano por conta de uma progressão continuada e de uma política assistencialista pelo qual a educação se tornou. Por causa dessa malfadada inclusão social, classes superlotadas são formadas, não há estímulo para a aprendizagem porque o aluno sabe que não vai repetir de ano, e o professor, com um salário ínfimo, tem que trabalhar em três ou quatro escolas para garantir sua sobrevivência, não vai ter a atenção necessária para desenvolver um trabalho mais completo e dinâmico.
Lembrem-se: A Educação é a base para o desenvolvimento e o progresso de uma nação.
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Lembrem-se: EU E OS GATOS TEMOS ALGO EM COMUM... SOMOS GATOS!