fonte: Blog do Tarso |
"Quando estou entre meus amigos eu costumo relatar uma historieta acerca da gênese da expressão "coxinha". Hoje, depois que um amigo me pediu para contá-la novamente, eu achei que seria uma boa hora para registrá-la por aqui para que todos vcs pudessem conhecê-la.Em contraponto do que está escrito, muitos comentaram que aqueles que são de esquerda, os famoss esquerdopatas, e lutaram contra o impeachment da Dilma, também seriam coxinhas, pois são instrumentos usados pela esquerda para levar as suas doutrinas à classe trabalhadora contra os impropérios do capitalismo.
O nome/ termo "Coxinha" veio de uma gíria já existente há décadas na cidade de São Paulo e que antes designava apenas um xingamento direcionado aos policiais. “Encarregados de fazer a ronda, eles se alimentavam de coxinha em bares e lanchonetes – e, em troca, garantiam a segurança local." Prestavam, em meio ao seu turno de serviço público, um bico de segurança momentânea a certos comerciantes que lhes ofereciam como pagamento apenas migalhas (coxinha e café coado).
Esses policiais costumavam e ainda costumam espantar das portas das padarias e similares os pivetes e os jovens moradores das comunidade locais. Eles costumavam e costumam espantar/afastar jovens que muitas vezes cresceram juntamente com seus irmãos e que por vezes frequentaram ou frequentam as mesmas escolas que eles frequentaram. Ou seja, são todos conhecidos, têm o mesmo berço econômico e social.
Tais jovens, ao serem "afastados/espantados" para longe dos estabelecimentos comerciais guardados pelos policiais ficavam furiosos e gritavam para os tais policiais: "seu coxinha, vc sabe que eu não sou bandido. Vc me conhece. Vc está defendendo esse cara em troca de uma mísera coxinha. Coxinha, coxinha!" Ou seja, o coxinha, naquele contexto, era um Xingamento dirigido a um policial que se escondia de sua própria condição (pobre, favelado e sem estirpe, mas que enganado por seu uniforme, pensava ser igual ou próximo ao rico comerciante e o avesso dos jovens pobres que ele espantava do local).
A expressão coxinha passou então a ser sinônimo daquele que defende um status quo ao qual ele não pertence. Ele defende os ricos, pensa ser rico, mas na verdade é um objeto a serviço dos
. Um instrumento para subjugar os seus iguais. O coxinha nunca terá o poder de um Aécio, dos Marinho ou de qualquer outro milionário ou mero empresário, mas ao defendê-los, o coxinha julga ser igual a eles.
Esses milionários não reconhecem o coxinha como seu par em igualdade, mas sim como um instrumento barato que defende e garante que ele (milionário) sempre tenha mais e mais.
O coxinha (na acepção primeira) é o policial que faz segurança na frente das padarias: defende o rico comerciante, acha q é amigo do dono da padaria, mas no fundo é apenas um instrumento barato. Esse policial vira as costas para os seus iguais, impede-os de esmolar por ali, usa da força para tira-los do campo do rico comerciante. Mas, caso uma desventura aconteça e esse policial venha a perder o seu emprego, esse rico comerciante não lhe garantirá direitos, nem comida e nem apoio. De modo oposto, os seus iguais, a sua comunidade, certamente lhe oferecerão o apoio necessário e até farão alguma rifa para ajudar sua família a não passar fome.
É isso: o coxinha é aquele que luta por alguém que nunca, jamais irá garantir-lhe os direitos de que ele precisa. O coxinha é o enganado. O termo se generalizou e passou a descrever o cara que pensa que um governante rico e poderoso irá construir melhorias para os trabalhadores, quando na verdade esses trabalhadores receberão desse tipo de governante apenas migalhas.
O coxinha pensa que é classe dominante. Ele se uniformiza à classe dominante: usa camisa polo de marca, já foi aos states, comprou casa e carro financiados, critica as cotas e os nordestinos, fala mal do SUS e da ignorância da faxineira. O coxinha é o policial uniformizado na porta da padaria que pensa ser diferente dos jovens da comunidade. O coxinha é o cara que põe gel no cabelo e sai por aí esnobando o seu brega Rolex e pensa ser igual ao CEO da multinacional. Ambos enganados, ambos coitados, ambos à mercê da fuga de suas origens.
Essa é a história da gênese da expressão coxinha e que eu desencravei há alguns anos em uma das tantas pesquisas que fiz por São Paulo.
Coxinhas são aqueles que viverão ao sabor das migalhas frias acompanhadas de café coado. A eles restará sempre e tão somente a azia e a má digestão, pois quem se iguala ao diferente recebe o que esse diferente acha que ele merece: coxinhas frias e nunca uma CLT.
Vou contar um segredo: Seja esquerda ou direita, todos nós somos massa de manobra de alguém ou de um partido político. Cada ideologia prega as suas "verdades absolutas", e a grande massa ignorante vai atrás. Cada lado tem o seu interesse e vende a sua idéia. A política é suja. E não há alternativa, você escolhe aquela que seja menos danosa e que sabe que vai pautar sua luta nas causas sociais. Como já afirmei antes em outros artigos, a corrupção está nas nossas veias. Seja esquerda ou direita, temos que escolher o lado menos danoso da questão.
Podemos até ser todos coxinhas, mas quem tem um pensamento à esquerda, consegue entender os motivos e os interesses que permeiam certos setores da sociedade, coisas que a maioria que se diz ser de direita ignora ou que não quer entender ou faz vista grossa. Para essas pessoas frases prontas é que valem. Não estou querendo dizer que aqueles que defendem a direita sejam pessoas ignorantes, mas elas agem como está descrito no texto acima. Eles são os perfeitos idiotas úteis.
Eu sou de esquerda mas não sou burro a ponto de não concordar com algumas idéias da direita, e nem luto contra o capitalismo. Quem não quer ter a ultima novidade da tecnologia? Quem não fica indignado com o fato de que certas isenções tem um preço que que alguém vai ter que pagar por isso?
Eu luto por uma sociedade justa, com oportunidades e condições iguais para todos. Esse objetivo transcende a discussão ideológica entre esquerda e direita. Eu acredito que alguns dos setores mais ricos do país possam lutar pelas causas sociais (ingenuidade minha?). Acredito que a Educação e o Trabalho é o que faz um país ter um crescimento melhor. Mas esse neoliberalismo...
Precisamos ir além do simples discurso de esquerda/direita. Garantir que todos tenham direitos iguais como prega a nossa Constituição e que as minorias sejam respeitadas. Que nunca se misture a religião com o governo, precisamos sempre lembrar que o nosso estado é laico e que a Educação é um dos pilares de uma sociedade. Que a fé seja relegada apenas nas igrejas e não interfira no progresso da nação. Que exista o lucro, mas que ele seja racional e que os trabalhadores de qualquer área tenha um salário justo. E também que o Governo não atrapalhe o livre comercio com os seus impostos injustos e onerosos. Que o governo saiba manter suas contas em dia.
Que o povo entenda que antes de lutar contra a corrupção, precisa rever seus conceitos sobre levar vantagem e o individualismo.
Utopia? No Brasil? Talvez... Por que não sonhar?